Morte é morte em qualquer lugar do mundo.
Mas os rituais que são realizados desde o primeiro momento da constatação
da morte até o sepultamente é que faz a diferença nas diversas culturas desse
nosso planeta tão diversificado chamado terra.
A morte aqui em Moçambique é chamada de “infelicidade”. Por aqui eu participei da infelicidade de um jovem
da nossa igreja que tinha somente 23 anos, e morreu da causa mais comum de
morte em países africanos, em outro post vou falar desta causa mortis.
Agora quero explicar como e quais são os rituais seguidos em volta da
morte pelas pessoas que não conhecem o Senhor Jesus Cristo como Salvador das
suas vidas.
Quando a pessoa morre em casa (os cômodos, o quintal) tudo é considerado
“pesado” espiritualmente, então a família chama o curandeiro
para fazer uma reza e jogar água fervida com raízes em todos esses espaços,
pois eles consideram que o espírito da pessoa morta ainda continua naqueles
locais.
Mas quando a família leva para a
casa mortuária o corpo pode ficar por vários dias até todos os familiares
chegarem para o sepultamento, neste caso não existe velório com corpo presente,
mas antes de levarem o corpo para o cemitério abrem o caixão e um familiar
coloca perfume no morto e seguem com cânticos, rezas e discursos.
Em outros casos alem da água no quintal e nos cômodos da casa o
curandeiro faz pequenos cortes nos ombros, testa ou nas costas de todos os
membros da família enlutada e coloca um tipo de raiz especifica no ferimento
para que a morte não seja constante naquela família.
Outra coisa curiosa é que antes do sepultamento um familiar consulta o
líder do cemitério, então este compra nipa (semelhante á pinga de engenho),
cigarro, farelo de milho, folha de bananeiras...nessa etapa todos os familiares
homens mais velhos do defunto ficam de joelho e o líder do cemitério bate
palmas três vezes para pedir permissão aos espíritos dos antepassados isso é os
primeiros que foram enterrados no local e são portanto considerados os donos do
cemitério, fazem rezas e entoam palavras especificas em dialetos.
As pessoas acreditam que se não fizerem isso antes de abrir a cova pode
advim algo muito ruim. Ouvi relatos de pessoas que não fizeram esse ritual de
pedir permissão e um enxame de abelhas atacou todos que estavam abrindo a cova.
Cada um aqui tem uma historia tipo filmes de terror pra contar...rs.
Quando é um recém-nascido que morre somente as mulheres podem participar
dos rituais, elas amarram uma corda em volta da mãe que perdeu o seu filho
entoam rezas, cânticos no dialeto local e jogam água com raízes na mãe, na hora
do enterro lançam a corda dentro da sepultura para que os próximos filhos não
tenham a mesma sorte.
É impressionante aqui em Moçambique como a morte une mais as pessoas do
que durante a vida. Os cortejos fúnebres são grandes e demorados, pois diante
do caixão no cemitério têm-se discursos, cânticos, rezas e uma coisa
interessante é que ninguém pode chorar, pois podem desagradar os espíritos que
são os donos do cemitério, o mais comum quando tem choro, segundo me relataram
é os ancestrais enviarem abelhas para atacar as pessoas.
Outra coisa interessante é o fato de enterrarem com o defunto todos os
seus pertences (roupas, sapatos, escova de dente etc...) inclusive a ultima
água que foi dado o banho é também levada para colocar sob o tumulo.
Todos que estão no cemitério
pegam um punhado de terra, fazem um gesto tipo um beijo e jogam a terra dentro
da cova, isso é uma forma de demonstrar que contribuiu no enterro.
Após o sepultamento todos vão para a casa da família e levam ofertas em
dinheiro para ajudar aquela família, este ato é meramente solidário não existe
nenhuma questão espiritual, as pessoas vão fazer esse gesto com receio que no
dia que for o seu próprio enterro ninguém ajude a sua família. Essa atitude é
repetida também na visita de sétimo dia.
A missionária Natalia me disse que participou de um momento desde e que a
oferta da multidão de pessoas que estavam na casa foi de 50 meticais cerca de
aproximadamente R$ 3,50.
Uma coisa semelhante com o Brasil é a visita de sétimo dia, aqui eles
vão ao cemitério colocam flores, arruma o tumulo, troca a água e depois fazem
uma festa na casa da família com cabrito, bebida alcoólica, muito caril e claro
novamente tiram uma oferta.
A partir de agora todo domingo a família tem a obrigação de ir ao
cemitério trocar a água que fica em uma vasilha em cima do tumulo, algumas
pessoas antes de morrer deixam especificado o tipo de água que deseja no seu
próprio sepulcro (fiquei sabendo que algumas pessoas pedem água do mar), essa
água é para o espírito do morto beber, neste caso tem que ser água limpa e
fresca...rs.
Para finalizar eu louvo a Deus por ser livre e por beber da água da vida
na qual nunca mais tenho sede e pelo privilegio de apresentar nesta nação a
libertação que o Evangelho oferece para todos aqueles que... Nele crer!!!
By Orcélia Sales
By Orcélia Sales
Nossa, não fazia ideia destes rituais! Muito legal conhecer suas experiências! :)
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