O cotidiano do missionário é carregado de surpresas e imprevistos, intercalado com a escuta orante da Palavra de Deus isso tudo leva-nos a pensar sobre o essencial e o conjunto da missão.
Em África onde se fala e vive a pobreza absoluta, somos tentados fazer da missão um dar coisas, reformar antigas estruturas ou cair nas lógicas falidas de nosso mundo onde o dinheiro aparentemente resolva tudo.
Missão para e não missão com. Ao chegar vive-se este dilema. O que fazer?
Missão para e não missão com. Ao chegar vive-se este dilema. O que fazer?
Nós missionários estrangeiros ainda somos vistos como aqueles que podem dar. Somos brancos, temos carro, casa bem situada e não nos falta comida e água. Muitos vem até nós com a expressão mackua “Mukivahe” que significa dá-me. Com mãos estendidas as crianças nos encontram vindo do mercado e nos dizem: “dá-me pão”. Se dermos pão a uma, outras aguardam nossa atitude e esperam também receber.
Também nos pedem carona, medicamentos, dinheiro, emprego, cimento para construir capelas, poços nas comunidades, apoio para pequenas associações, cadernos, canetas, bicicletas, pastas e há aqueles que pedem Bíblias, objetos religiosos e livros.
Também nos pedem carona, medicamentos, dinheiro, emprego, cimento para construir capelas, poços nas comunidades, apoio para pequenas associações, cadernos, canetas, bicicletas, pastas e há aqueles que pedem Bíblias, objetos religiosos e livros.
Residencia oficial da Base Catedral da Família
As marcas deixadas pelo colonialismo português, acampado durante séculos, a situação de pobrezas sociais, a guerra civil, a situação política corrompida e as organizações não governamentais que aqui atuam, contribuíram e contribuem para esta mentalidade de receber.
Os que chegam na missão em Moçambique passam por esta dúvida e por este teste: Dar ou não dar aquilo que te pedem. Quando lá estive fui e estou aprendendo que é preciso dizer não, para dizer sim a um projeto de missão que construa e fortaleça pequenas comunidades ministeriais e autônomas (auto-sustentáveis).
A atitude de colocar-se como fraco, pobre e necessitado já é missão. Jesus nos recomenda: “Vão!...não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias”(Lc10, 3-4).
A Missão evangélica se faz com meios pobres, sem barulho, sem arrogância de visibilidade e sem demonstração de força com meios poderosos onde transita altos valores econômicos. A atividade missionária dos discípulos de Jesus tem raízes pobres e atitude permanente de fé e confiança no Espírito que atua silenciosamente nos corações.
A missão entre as missões carrega um conteúdo de paz e de anúncio de que o Reino chegou. “Digam primeiro: A paz esteja nesta casa!” (Lc10,5b); “curem os doentes e digam ao povo: O Reino de Deus está próximo de vocês” (Lc10,9). Deus envia para cidades e lugares onde Ele próprio devia ir. E lhes dizia: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos”(Lc10,2).
Membros da igreja Catedral da Família Mafambisse
Missão de colheita. O que significa? Antes de chegarmos aos lugares concretos de missão, Deus já chegou bem antes e fez todo trabalho da graça de preparar a terra, semear, limpar e fazer crescer. Basta de nós a paciência da espera, a escuta, o conhecimento do terreno, a identificação dos frutos e a colheita propriamente dita.
Estando nas missões, ainda peregrina na busca do essencial da missão. O tesouro escondido do Reino onde habita corações apaixonados.
Depois de algumas vivencias descobri que o mais importante não é dar coisas, mas dar a si mesmo e partilhar dons recebidos. Valeu atravessar oceanos na busca e na oferta daquilo que a traça e a ferrugem não podem destruir. “Busquem o Reino, e Deus vos dará todas as coisas como acréscimo” (Lc12,31).
O meu sonho é que o projeto missionário que me enviou continue oferecendo de sua pobreza, missionários, irmãs, profissionais liberais para os necessitadas de Moçambique e também a outros países do continente africano.
Não é hora de ter medo, o Pai de ternura que nos envia, cuida, veste, protege, ampara e alimenta seus filhos.
Sigo nessa fé, sempre!!!
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